terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Meu Pé de Laranja Lima

“Fez uma pausa. Ele também nunca mais ia esquecer daquilo para o resto da vida.
(...)
E Papai falava e falava sempre.
(...)
Fui escorregando pelos seus joelhos e caminhei para a porta da cozinha. Sentei-me nos degraus e contemplei o quintal com o morrer de todas as luzes. Meu coração se revoltara sem raiva. ‘Que quer esse homem que me pega no colo?’ Ele não é meu pai. Meu pai morreu. O Mangaratiba matou ele.
Papai tinha me seguido e viu que os meus olhos se encontravam de novo molhados.
(...)
Ele não entendia. Ele não entendia. (...)
Olhei os seus pés, os dedos saindo dos tamancos. Ele era uma velha árvore de raízes escuras. Era um pai-árvore. Mas uma árvore que eu quase não conhecia.
(...)
Agarrei-me soluçando aos seus joelhos.
- Não adianta, Papai. Não adianta...
E olhando o seu rosto que também se encontrava cheio de lágrimas murmurei como um morto:
- Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima.”
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